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Luto

Psicoterapia para Luto

(Frases adaptadas, retiradas de diversos discursos ao longo dos cuidados oferecidos ao luto).

Em comum? O amor! Além de todos serem considerados “processos de elaboração de luto” que, por definição, são respostas naturais e esperadas em reação ao rompimento de um vínculo significativo, todos transbordam muito, muito amor. Claro que também trazem sofrimento, saudade e dor, mas, sobretudo, ecoam amor e o amor… ah, esse é infinito!

 

Diferente do que se escuta por aí, eu penso que, em um processo de luto, não há nada a ser superado, mas há muito o que ser aprendido, ressignificado e (re)costurado. Percebo que as pessoas insistem em dizer que luto tem tempo determinado. Hum… cá entre nós, eu nunca vi a data de validade estampada na “embalagem do luto”, você já?

 

É verdade que com o passar do tempo (e com o cuidado oferecido à essa dor), o sentimento poder ser modificado (ressignificado), mas isto não tem absolutamente nada a ver, exclusivamente, com o tempo cronológico. Até porque, quem vivencia essa experiência, traz uma mistura de sentimentos (medo, raiva, dor, saudade, amor…) que não desaparece espontaneamente “só” porque “já passou muito tempo”. Ao contrário, todo esse sentimento que embrulha o processo do luto tende a reacender em datas específicas ou, ainda, chegar inesperadamente e insistir em ficar.

 

Sabe, eu costumo dizer que toda dor é como uma onda (aquelas do mar, umas mais fortes, outras mais brandas…) e não seria diferente com o processo de luto. Em um belo e ensolarado dia, você está construindo seu castelinho de areia e, sem pedir licença, a onda vem e desmancha aquilo que tão cuidadosamente você estava edificando. Mas, tem algo que também sempre acontece: a onda retrocede! É assim também quando nos permitimos sentir as nossas dores, elas chegam, mas elas também vão… 

 

Especificamente sobre a dor do luto – palavra que carrega um tabu cultural, é curioso (e errôneo) que, geralmente, ela é associada exclusivamente ao falecimento de uma pessoa. No entanto, como já perceberam nas frases descritas acima, o processo de elaboração de luto também pode estar ligado a outros rompimentos importantes em nossa vida: mudanças geográficas – de residência, de cidade, de país; aposentadoria ou desligamento/demissão de empresas; mudanças nos papéis e status sociais; mudanças intensas físicas – o próprio processo de envelhecimento ou processos de adoecimento que geram mudanças físicas intensas e abruptas; rompimento de relacionamentos; falecimentos de animais de estimação; entre outros.

 

Quando relacionado ao falecimento de entes queridos, gosto de acreditar que o luto e o modo de cuidar dessa dor, talvez sejam meios saudáveis de manter essa pessoa pertinho de nós, para que não esqueçamos (por exemplo) seu tom de voz, seu cheiro e seu toque. Já em relação aos outros processos de luto, entendo que sejam formas de (na impossibilidade de alterar os fatos), oferecer um novo olhar cuidadoso, possibilitando a reorganização da nossa narrativa. De um modo geral, em ambos, acontece a (re)construção e o estabelecimento de um novo vínculo com o fato ocorrido e pode haver, ainda, a consciência da retomada do nosso direito de ser feliz, apesar de tudo.

 

Eu desejo poucas ondas de luto em sua vida, mas se e/ou quando elas existirem, que você lembre-se que toda onda recua e nos mostra que continua sendo possível (re)construir castelinhos e aproveitar o sol. Ah, também gosto de lembrar que tudo que já se foi, permaneceu (e permanece) dentro de nós. Que possamos cuidar disso…