Quando criança, gostava de matemática, física e química. Nos primeiros anos do ensino escolar, a certeza das contas e dos raciocínios lógicos me davam a segurança necessária para a vida daquele momento. Bastava percorrer o caminho esperado que o resultado final era certeiro. Dois mais dois eram quatro e ninguém poderia mudar isso.

Segui com essa suposta segurança por bons anos, pois de alguma forma, ela camuflava o que eu não conseguiria encarar naquele momento. Ela me dava respostas e certezas e essa era a minha necessidade.

No entanto, foi intensamente aos poucos, que percebi que nenhuma equação conseguiria me explicar o porquê das perdas irreparáveis da vida. A Dona Certeza soltou a mão da Dona Segurança e seus dedos não se encaixaram mais, tornando aquilo tudo simplesmente insuficiente. A vontade de ser engenheira civil e construir fabulosas estruturas na cidade grande, com tijolos e concreto, deu lugar a vontade de pensar na decoração interna na vida frágil e ímpar de cada uma das pessoas. E foi aí que eu entendi que o brilhantismo do X ou do Y era que eles poderiam ser qualquer coisa, mas que nunca seriam sempre dois ou três.

Nessa salada gostosa da vida, me tornei uma admiradora da incerteza e da insegurança, da fragilidade e da vulnerabilidade humanas. E isso floresceu meu sentido de vida e visão de mundo: escutar e dar voz a vulnerabilidade e finitude humana. Oferecer ouvidos e colo às dores, flores e amores, às feridas e cicatrizes, à impotência e a insuficiência e à beleza ímpar disso tudo.

Sou Franciele, psicóloga, apaixonada pela vida frágil, incerta e tão amorosa vida.