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A era dos descartáveis

“Seu celular quebrou? Compra outro, não compensa arrumar”. “Por que você vai consertar essa cadeira? Compra outra!”. Aposto que você já ouviu esse tipo de conversa e que não foi somente uma vez, afinal, isso tem ficado cada vez mais “comum” nos últimos tempos. Comum e triste. Porque além da ideia dessa “troca constante” ser aplicada aos objetos, ela vem sendo utilizada também aos seres humanos, tanto no que diz respeito às relações, quanto ao avançar da idade humana. Dá pra acreditar? Não deveria dar…

Já não é incomum ouvirmos: “se não está dando certo com seu namorado, troca”. E estou bem longe de fazer alusão a permanecer em relacionamentos quando não estiver se sentindo bem, mas o que venho percebendo é o quanto as relações tem sido objetificadas e ausentes de comunicação. Então, se há alguma alusão a se fazer, é em relação a objetificação do humano.

Essa (triste) forma de pensar tem se estendido ao processo de envelhecimento, principalmente no que diz respeito aos idosos. Percebe que quando falo nesse tal envelhecimento, não o relaciono exclusivamente às pessoas que possuem 60 anos ou mais? Isso é porque acredito que envelhecemos desde o primeiro até o último dia da nossa vida, independente de quanto tempo caiba nesse intervalo

 

Tem algo que também é crucial nesse processo: somos influenciados constantemente pelo ambiente que nascemos e vivemos e isto quer dizer que pertencemos a uma determinada cultura, certo? Eu nasci no Brasil, especificamente em São Paulo e “correspondo às regras” desta região. E, nesta região, no que diz respeito ao olhar para o idoso, posso afirmar que o significado atribuído à essa fase é triste. Triste e cruel.

 

Quando procuramos no dicionário o significado da palavra “velho”, encontramos definições como: fora de moda, ultrapassado, antiquado, que é desusado, gasto pelo uso”. Aparentemente são descrições para objetos. Mas te causaria algum estranhamento se associássemos essas palavras ao idoso? Infelizmente, tenho visto que não. À primeira vista, até causa um “arregalar de olhos”, mas na prática, no que vemos no dia-a-dia, é exatamente e cruelmente isso.

 

Enquanto, na realidade, o envelhecimento tem a ver com um processo de degenerescência do organismo, que decorre da natural passagem do tempo, na prática vemos: exclusão, descarte, isolamento, menosprezo. Somos a era da produtividade e do cultivo ao corpo (irreal), da independência e do egoísmo. Nessa suposta era, não há espaço para fragilidade e para vulnerabilidade. Mas a verdade é que ser frágil e vulnerável é ser humano. E ser humano, se não morre antes, envelhece…

 

Diferentemente de outras culturas, aqui, o idoso nunca foi sinônimo de sabedoria e respeito, tampouco ocupam um lugar privilegiado na família ou na sociedade. Tem até quem queira incluir “velhice” na classificação de doenças, vê se pode! (mas isso é tema para uma outra conversa).

 

O que eu quero te dizer, é que qualquer fase da vida importa! Toda e qualquer fase importa! E aqui, entendemos que ser forte é ser frágil e vulnerável, apropriando-se do que realmente é humano. A importância está em quem se é. Quem é você? Já pensou em dar voz à essa infinidades de coisas que você tem aí dentro? Vamos cuidar da sua história?

 

 

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