Dia desses estava conversando com um grande amigo. Infelizmente, ele recém havia recebido a notícia sobre o falecimento de um grande amigo dele. Sim, por complicações da COVID-19, uma tristeza pura. Poucos dias antes, falávamos sobre como a vida é uma permanente impermanência, abordamos assuntos relacionados às nossas crenças (ou descrenças) no divino, sobre a importância de viver “vivendo” e não de sobreviver. Assuntos um tanto quanto profundos…
Somos amigos há alguns anos, nos conhecemos despretensiosamente em um curso sobre Tanatologia (estudo científico sobre a morte), no qual ele deu uma indizível aula sobre a vida e sobre o que nos é sagrado. Sabe aquela aula que nos deixa de queixo caído? Parece que o tempo para e tudo que você já viveu passa ali diante dos seus olhos, como uma retrospectiva, mas, ainda mais importante, como uma grande possibilidade de reorganizar as suas histórias e se agarrar a uma vida alinhada ao seu verdadeiro sentido. Foi isso! Aliás, foi ainda mais que isso e acho que nenhuma junção de palavras seria suficiente para descrever a quantidade de sentimentos envolvidos e a potência daquela fala dele.
De lá pra cá, construímos uma amizade a prova de falhas e, nos percalços da vida, seguimos reafirmando esse vínculo de uma forma ainda mais bela e humana. No dia da tão triste notícia, como “boa amiga – e psicóloga”, tentei oferecer minha presença em forma de ouvidos atentos (olhos atentos, já que conversávamos virtualmente), colo e cuidado em um momento tão importante e delicado como esse. Retomamos aqueles assuntos profundos: medo, dúvidas e impotências e, embora eu tenha tentado acolhê-lo, foi ele quem, mais uma vez, me ensinou ainda mais sobre a vida. Ele disse: “Fran, não economizar afeto, salva”, fazendo alusão ao quanto a amizade dele com esse seu melhor amigo havia sido vivenciada com base na entrega, na presença e no amor.
“Não economizar afeto, salva”. Não economizar afeto, salva! Isso ecoará em minha cabeça (e em minha vida) para (o meu) sempre. Talvez ele não tenha dimensão do quanto isso foi importante para mim. Eu fiquei pensando sobre quantas vezes já economizei afeto, por qualquer que seja o motivo e se alguma situação foi realmente tão relevante para que me impedisse de vivenciar o que mais faz sentido em minha vida, o afeto. […]. Não farei uma lista aqui sobre quais situações vieram à minha lembrança, mas infelizmente a resposta foi “sim, já economizei afeto”.
A morte de alguém, ainda mais a de alguém tão importante para nós, certamente nos traz dor (somos fruto e vivemos em uma cultura que nos ensina isso, inclusive), mas como ele mesmo me disse, é um momento para também olharmos para nossa vida. Para o nosso sentido de vida. Assim como eu fiquei pensando no meu sentido de vida (gosto de fazer isso com frequência, porque nós, humanos, temos facilidade em nos esquecermos dele), vou deixar aqui essa sugestão a vocês… qual o sentido da sua vida? Você está vivendo de acordo com seus valores e suas crenças? Está economizando afeto? Se sim, você sabe o porquê? Além disso, já pensou que um processo psicoterapêutico pode ser um espaço para pensarmos (e cuidarmos), juntos, sobre tudo isso?
Entre muitos afetos, que nossa vida seja intensa e completa em sua imperfeição…